Guimarães, Bruno Almeida, Kangussu, Imaculada, Mello Rangel, Marcelo de, Freitas, Romero (2022). Benjamin, W. Hoje. Belo Horizonte: MG: Editora Relicário; 1ª edição, 216 p.
Texto integral
Neste ano de 2022 comemoramos os 130 anos de nascimento de Walter Benjamin (Berlim/Alemanha, 15 de julho de 1892) e 82 anos de sua morte (Port Bou/ Catalunha 27 de setembro de 1940). Em muitos lugares, homenagens e lançamentos marcaram a data comemorativa e, em alguns caso, novas luzes e interpretações aos escritos do autor Alemão. ‘Hoje, Walter Benjamin’ vem nessa direção, ao reunir uma seleta gama de estudiosos benjaminianos brasileiros, convidando-os à refletir acerca da contemporaneidade do seu pensamento. A iniciativa conta com: Aléxia Bretas, Augusto de Carvalho, Carla Damião, Daniel Pucciarelli, Ernani Chaves, Helano Ribeiro, Imaculada Kangussu, João Emiliano Fortaleza de Aquino, Luciano Gatti, Marcelo de Mello Rangel, Márcio Seligmann-Silva, Olgária Matos e Rafael Haddock-Lobo.
A proposta do livro, como indicado no Prefácio (p. 7) era homenagear o autor nos oitenta anos de sua morte, mas dada a natureza dos capítulos recebidos, o livro veio a ser um sobre e um para pensar o hoje, partindo das reflexões benjaminianas. O que nos traz maior expectativa e aumenta a responsabilidade dos participantes, todos eles brasileiros, nesta empreitada.
Pensar contemporaneamente Benjamin é atentar para a aceleração e a flexibilização do tempo em espaços e/ou territórios em luta pela decolonização das consciências, da luta por uma outra e necessária democracia em constante exercício cidadão a superar o [apenas] consumidor, hoje o usuário em uma sociedade do esquecimento, isto é, daquelas que se olvidaram dos seus dias de ‘conservadorismo tóxico’ – para utilizar um termo em voga – e optaram nas urnas pela manutenção do passado onírico que, ao menos sabem se existiu. Pensar Benjamin é observar, ler, reler o que a realidade do período técnico científico informacional (Santos, 1996:41) nos quer cegar com suas luzes extremamente fortes.
Dessa forma, temos capítulos com as mais variadas posições, possibilidades e relações. A autora Afro-brasileira Denise Ferreira da Silva dialoga com Benjamin no primeiro artigo, de Aléxia Bretas, Lendo imagens dialéticas contra a flecha do tempo: Walter Benjamin com Denise Ferreira da Silva, ambos preocupados e comprometidos em denunciar, desmontar os dispositivos da violência racial, Benjamin contra o antissemitismo nazista e Silva contra a violência à raça negra no Brasil, entretanto, “ambas justificadas pela existência do racismo como peça fundamental nas campanhas expansionistas do capital mundial tanto ao norte quanto ao sul global” (Bretas, 2022: 10).
Por que Teses sobre o conceito de História? É o diálogo de Augusto de Carvalho com Benjamin. Nesse capítulo, os aforismos de Sobre o conceito de História, são indicados como possibilidade de um debate em várias frentes e perspectivas, pois não são auto evidentes ou auto explicativas. Emerge um Benjamin historiador e uma historia necessária para o entendimento do passado-presente que analisou durante décadas.
Carla Damião trata Sobre o conceito der Wahrnehmung , que a autora quer “investigar o sentido de aisthesis como percepção sensorial” (p.37) que sofrerá reveses na sociedade industrial e técnica e da indústria do entretenimento, a época de Benjamin, o cinema era o principal exemplo. Finaliza citando o comentário de Geert Lovink (1991: 1) da qual vale a pena destacar para dar uma mostra ao nosso leitor da profundidade do conceito em epígrafe: “Walter Benjamin é uma interface entre a herança de Gutemberg e a mídia em ascensão...Em princípio Benjamin reduz todas as mídias ao roteiro. no entanto, ele dá uma olhada no futuro, não reduzindo o novo médium ‘do filme’ a uma forma de arte, mas sim interpretando-o como um novo meio (medium)” (Id: 54).
O seguinte capítulo, Esquecer Benjamin? Nota sobre um tema de Beatriz Sarlo, Daniel Pucciarelli indica o caráter inovativo e antecipatório da editoria argentina em toda América Latina ao publicar, em 1967, a obra de Benjamin facilitando o contato e a reflexão dos intelectuais argentinos, como é o caso de Beatriz Sarlo que avança e faz a auto critica da maneira como essa antecipação argentina parece não representar, na visão da autora, o entendimento do autor e mais ainda da “moda Benjamin” , a qual ela criticará na revista Punto de Vista em 1995 com o artigo ‘Olvidar Benjamin’, principalmente o uso indiscriminado do flâneur fora do contexto da Paris fin-de-siècle. Os leitores deste capítulo tem caminhos para refletir acerca do que é ser fiel – HOJE! – ao pensamento de Benjamin.
Ernani Chaves apresenta Filosofia como crítica do sistema: acerca da leitura do livro de Karl Loewith sobre Nietzsche (1935), por Walter Benjamin. A proposta do capítulo é demonstrar como Benjamin, apesar de suas constantes mudanças, não só de endereço como entre países, continuou como leitor de Nietzsche, e interessado também na obra de Löwith, conforme atestam duas cartas em que o livro é indicado aos seus interlocutores. A primeira de 28 de agosto de 1938 e a segunda de 04 de outubro de 1938. “Estas duas referências mostram, claramente, o interesse de Benjamin pelo livro de Löwith.... Como pretende demonstrar, o que está em questão nela, ou seja, as relações entre filosofia e poesia, filosofia e sistema, são também muito importantes para o próprio Benjamin” (p. 69).
Kommed, o que está em vias de, em processo, assim também a proposta da filosofia Benjaminiana apresentada por Helano Ribeiro no capítulo Walter Benjamin: (i)mago de uma filosofia por vir. “Sobre o programa da filosofia do por vir, que deveria ser um programa de filosofia que concebesse um conceito de experiência mais abrangente (superior) do que aquele elaborado por Kant e pudesse incluir outras formas de4experiência” (p. 85). Uma dessas formas poderia ser as alucinações.
Imaculada Kangussu, na sequência, aborda Sobre o conceito de história: outras naraytivas são precisas ao que se pergunta se, depois de mais de oitenta anos das teses Sobre o conceito de História, o texto está inacabado? (p. 95) A autora se propõe uma tarefa, para qual também chama seus leitores, de reescrever a história desde a perspectiva dos vencidos, uma tarefa deixada por Benjamin para o por vir, “as teses Sobre o onceito de história são como uma mensagem na garrafa” (p.95).
Ainda debruçando nas teses Sobre o conceito de História, o operariado vem à tona no capítulo de João Emiliano Fortaleza de Aquino, Benjamin e a história social do século XIX: as lutas de classe do proletariado francês. Resultado de uma investigação profunda no tema, o capítulo responde a pergunta de qual seria a concepção benjaminiana das lutas de classes no século XIX (p. 111), demonstrando ao leitor que sim, existem contradições a serem desveladas.
Possivelmente um dos textos mais utilizados de Benjamin, “A obra de arte na época de sua reprodutibilidade técnica” amplia o conceito de obra de arte, mas quais apostas de Benjamin se concretizaram nos anos vindouros? “A imagem técnica de fato alterou a função social da obra de arte? São questionamento que o capítulo A ”obra de arte” para além do cinema: sobre a atualidade de uma aposta de Benajmin quer refletir e responder com o leitor (p. 129).
Benjamin, crise da experiência e hiperempiria é o tema que Marcelo de Mello Rangel vai desenvolver e para o qual faz uma pequena ressalva inicial de que reconheceu o conceito de hiperempiria a partir do texto de Benjamin “Experiência e Pobreza” . Apenas para incitar a curiosidade do leitor, Rangel vai definir a hiperempiria como ‘um comportamento de abertura integral ao que desponta, especialmente (mas não apenas) em contextos mais críticos, é parte importante do que chamamos de hiperempiria” (p. 152) .
Vilém Flusser e Walter Benjamin dialogando acerca da técnica é a proposta de Filosofia da Técnica como conquista de um campo de ação lúdico (Spielraum) em Benjamin e Flusser por Márcio Seligmann-Silva, uma vez que “ambos os autores sonham com as naturezas externa e interna ao ser humano liberadas e capazes de desdobrar a sua potência a partir de uma arte-técnica emancipadora (p.159).
Walter Benjamin: as coisas e seu destino de Olgária Matos (p.193), fecha a obra. Nesse capítulo encontramos reflexões que remetem à aura das coisas e aura autêntica, brinquedos e criança, nova miséria, surrealismo, mundo das coisas e o colecionador a pausa do destino, enfim, uma possibilidade de pensamentos e adentramentos no universo benjaminiano para meditar acerca do passado que se atualiza no agora.
Santos, M. (1996). A natureza do Espaço. Técnica Tempo Razão e Emoção. São Paulo: HUCITEC
- Guilherme da SILVA
- Universidade Estadual Paulista - UNESP
Campus Araraquara - Brasil - https://orcid.org/0000-0002-5705-9586
- guilhermedasilva09@gmail.com
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